segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Resposta da rubra ao diario económico

Diário Económico publicou recentemente um artigo onde começa por pôr em letra de título a ideia absurda de que a despesa do Estado com as funções sociais é a que mais pesa. Vamos olhar para o Orçamento de Estado (OE) e ver se é verdade:
Serviços sociais (saúde, educação, cultura, habitação, etc.) = 15,8% da despesa.
Outros serviços do Estado (defesa, administração, funções económicas, etc.) = 14,2% da despesa.
Perante estas percentagens (14,2% + 15,8% = 30%), impõe-se uma pergunta: mas então para onde vão os restantes 70% de despesas do Estado? A resposta é simples e também está escrita no orçamento de Estado: vão para o serviço da dívida pública.

Para que servem as despesas sociais do Estado

O Estado faz despesas sociais para que os mais fracos, desprotegidos e doentes não morram como cães no meio da rua. Faz despesa para proporcionar às pessoas cursos, graças aos quais elas depois vão trabalhar e proporcionar lucros às empresas; faz despesa para que essas pessoas não adoeçam e deixem de poder trabalhar; faz despesa para construir estradas por onde as empresas fazem circular os seus produtos; etc. É uma despesa necessária à sobrevivência das pessoas e da economia numa sociedade civilizada, por oposição à barbárie.

Mas afinal quem paga tudo isto?

Para fazer despesa, é necessário receita. A maior parte da receita do Estado vem dos impostos e contribuições. Tomemos o ano de 2011 como referência e façamos as contas ao que cada um pagou, em percentagem do PIB nacional (recordemos que o PIB é o valor monetário de todos os bens e serviços produzidos por uma comunidade).
Os impostos pagos pelos trabalhadores corresponderam a cerca de 25% do PIB; o capital contribuiu com cerca de 9%. O total de despesas do Estado ronda os 49% do PIB. Além disso, bem feitas as contas – ao contrário da aldrabice que nos tem sido servida nos últimos anos –, conclui-se que o montante dos impostos e contribuições pagos pelos trabalhadores é mais do que suficiente para cobrir as despesas sociais.
Se olharmos para o PIB duma família portuguesa média e lhe subtrairmos as suas «despesas sociais» (saúde, alimentação, transportes, educação, comunicações, habitação), vemos que pouco ou nada sobra. E então percebemos que a percentagem de gastos sociais do Estado em relação ao PIB nacional (cerca de 8%) é ridícula. Deveria ser muito mais – sobretudo tendo em conta que a maior parte do dinheiro que os trabalhadores entregaram ao Estado está a passar directamente para as mãos do capital privado através do pagamento de juros da dívida.

Colectivo Revista Rubra, 24 de Setembro de 2012

A Rubra pode ser assinada em www.revistarubra.org e comprada na Letra Livre, Calçada do Combro.

 http://www.revistarubra.org/?p=3107

A verdade escondida por de trás do escandalo do BPN

Porque é que o estado injectou 5,7 mil milhões de euros para salvar o BPN evocando um risco sistémico quando este banco representava apenas 2% de quota de mercado?

Porque, para além da corrupção e das altas personalidades envolvidas, o que muita gente não sabe, porque não foi divulgado,  é que muito dinheiro da Segurança Social estava lá depositado, e essa verdade não convêm a ninguém. 
Jogar na bolsa o dinheiro das reformas.
Os descontos que fazemos para a reforma são geridos pela Centro Nacional de Pensões da Segurança Social ou a Caixa Geral de Aposentações (no caso das reformas da Função pública e empresas do Estado). Mas, como é óbvio, esse dinheiro não fica a "dormir" durante anos para ser utilizado para pagar as pensões mais tarde.
 
No caso da Caixa Geral de Aposentações, a carteira de investimentos é composta quase exclusivamente por títulos de dívida do Tesouro português, o que em caso de queda de valor de mercado, como tem sido o caso nos últimos anos, as perdas podem ser significativas. Só no ano de 2011, essas perdas foram de 1,46 mil milhões de euros. Esta política de investimentos, adoptada pelos sucessivos governos, há muito tempo que deixou de ser considerada segura.

No caso da Segurança Social, o dinheiro das reformas é gerido pela Caixa Geral de Depósitos (CGD) que investe esse dinheiro em títulos de dívida portuguesa, sendo assim a CGD um dos maior credores do próprio Estado com um valor superior a 5 mil milhões de euros. Mas a CGD também investe esse dinheiro em outras áreas.
O dinheiro da Segurança Social no BPN.
Sabe-se que a CGD tinha várias contas no BPN aproveitando os juros irreais praticados nesse banco, quanto não se sabe ao certo, falava-se na altura em mais de 500 milhões de euros, mas talvez seja muito mais. O BPN foi criado 1993, e em 1999 foi aberta uma ou várias contas pela CGD utilizando os fundos da Segurança Social, sendo nessa altura José Oliveira e Costa o seu presidente e o ministro responsável pela Segurança Social no governo Ferro Rodrigues.

Pela administração e órgãos sociais do BPN e da Sociedade Lusa de Negócios (SLN) passaram muito dirigentes de vários quadrantes políticos, principalmente do PSD, daí que quando da nacionalização, tenha havido poucas críticas. Dias Loureiro, por exemplo foi compadre de Ferro Rodrigues, quando da casamento dos seus filhos João Ferro Rodrigues e Joana Dias Loureiro, o mundo é pequeno.

A conta da Segurança Social no BPN dá-se portanto em 1999, sendo legítima tal abertura de conta, mas depressa se verificaram grande movimento nas entrada e saída de dinheiro pouco claras. Ainda não é claro se parte desse dinheiro era aplicado em depósitos, acções ou obrigações, ou se era usado nas dezenas de off-shores desse banco, ou até para financiar certas personalidades.

Desde 2001 que decorriam vários processos relativos ao BPN/SLN no Ministério Público, na Polícia Judiciária e na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários,  o próprio Banco de Portugal tinha conhecimento das prática pouca claras praticadas pelo BPN.

As apostas perdidas...para alguns. 
Com a gestão de um fundo de maneio de 2 mil milhões de euros, a Segurança Social teria um depósito de cerca de 500 milhões no BPN (ou mais) o que representa 25% de todo o fundo num banco que tinha apenas 2% de quota de mercado. Esse dinheiro investido pela Segurança Social foi o principal motivo da nacionalização do BPN, um banco que custo ao Estado, segundo alguns cálculos 8 mil milhões, e que foi vendido ao BIC por apenas 40 milhões. Esse escândalo não podia ser revelado.
 
http://octopedia.blogspot.pt/2012/09/a-verdade-escondida-por-tras-do.html
 

Miguel Macedo o burro e os seus parasitas

O ministro Miguel Macedo veio explicar que o problema de Portugal era «que havia muitas cigarras e poucas formigas». Diz-nos o Eurostat que Portugal é dos países em que mais tempo se trabalha em toda a Europa, com escolas abertas mais tempo, com filas de trânsito de regresso a casa à 8 da noite e com os mais baixos salários. Numa população activa de 5, 5 milhões, há 300 mil! que são gestores executivos e dirigentes políticos (dados do INE). A estes juntem-se os funcionários que trabalham nas IPPS, ONGs e outras frentes dos partidos do centro, PS, PSD e CDS. E assim, muda-se o zoo: Portugal afinal tem milhões de formigas, 300 mil burros e um número desconhecido de pulgas, carraças e outros parasitas.

por Raquel Varela

 http://5dias.net/2012/09/24/miguel-macedo-o-burro-e-os-seus-parasitas/

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Friedmanitas à portuguesa

Andam as pessoas chocadas e espantadas com o descaramento de uns quantos que, tendo supostamente sido eleitos pelo povo, pela maioria, para zelar pelo seu bem estar, afinal, quando apresentam bons resultados vão sempre na mesma direcção, dos ricos e poderosos, isto é, da minoria.


Explicações para a situação tem havido muitas, umas mais convincentes que outras. Já quanto a soluções têm sido menos, excepto as do lado dos governantes que pecam por dois defeitos: são sempre demais e têm o condão de falhar rotundamente, ano após ano. E é assim desde há trinta e seis anos.

Uns a afirmar que nos tínhamos endividado demais e agora estávamos a pagar a factura; outros refutando que quem tinha provocado a crise eram os gananciosos especuladores e prestamistas; outros ainda acusando a Alemanha e a Sra. Merkel de quererem fazer de mansinho aquilo que o Hitler não conseguiu à bruta; finalmente outros, a assegurar que tudo isto não passava de um ataque cerrado dos EUA ao Euro porque começava a ameaçar o dólar como moeda de comércio internacional.

Estava quase em crer que seriam todas elas juntas e mais algumas, ainda invisíveis para mim, tal a situação caótica que se vive. No entanto, muito ficava por explicar nomeadamente algo que sempre me intrigou: a postura bonzática dos governantes, impávidos e serenos, quer caíssem picaretas ou chovessem manifestações. Algo por detrás devia justificar esta atitude.

Eis se não quando a leitura de um importantíssimo trabalho da jornalista norte-americana Naomi Klein veio lançar uma nova luz sobre a matéria. Nomeadamente a da relação entre o avanço do capitalismo e as catástrofes e outras situações difíceis para os países. Trata-se do livro " A Doutrina Do Choque – Capitalismo De Desastre" e data de 2009.

Nele se expende a ideia de que a catástrofe natural, tal como a crise económica, a guerra, provocando a destruição e o caos geram novos mercados. Em resumo, poderiam ser uma prática intencional destinada a criar condições para o avanço do capitalismo, sem obstáculos por parte dos atingidos. Pior do que isso, segundo as palavras do mentor da teoria Milton Friedman, "Tornar o impossível, inevitável", querendo ele dizer com isso que, com este método, a situação social se deverá tornar tão insuportável para as pessoas que irão ser elas a implorar junto dos seus carrascos uma qualquer solução que as alivie. Só que o carrasco sabendo isso ainda carrega mais e acaba aplicando medidas que de outro modo seriam impossíveis de implementar.

Cita ela como paradigmáticas as afirmações de um dos seguidores do modelo:

"Para nós o medo e a desordem ofereciam grandes promessas." O ex operativo da CIA de 34 anos estava a referir-se a como o caos no Iraque, após a invasão, tinha ajudado a sua desconhecida e inexperiente firma de segurança privada, a Custer Battles, a sacar cerca de 100 milhões de dólares em contratos ao governo federal. As suas palavras poderiam ser usadas como slogan para o capitalismo contemporâneo – o medo e a desordem são os catalizadores de cada novo salto em frente".

Mais adiante explica qual a principal característica ideológica deste novo modelo:

"Um termo mais preciso para descrever o sistema que apaga as fronteiras entre o Grande Governo e os Grandes Negócios é corporativista , não é liberal, conservador ou capitalista. As suas principais características são enormes transferências de riqueza pública para mãos privadas , muitas vezes acompanhadas por uma explosão de dívidas, um abismo que não pára de se alargar entre os ricos deslumbrantes e os pobres descartáveis, e um nacionalismo agressivo que justifica gastos ilimitados com a segurança. Mas devido às claras desvantagens para a vasta maioria da população deixada de fora da bolha, outras características do Estado corporativo tendem a incluir a vigilância agressiva (mais uma vez com o governo e as grandes corporações a trocarem favores e contratos), encarceramentos em massa, liberdades civis cada vez mais diminutas, e muitas vezes, embora nem sempre, tortura".

Quem estaria na origem desta politica económica, a que muitos chamaram neoliberalismo e se expandiu por todo o mundo capitalista a partir dos anos 70 com Reagan e Thatcher, seria o seu autor, Milton Friedman, criador de uma escola económica, designada por Escola de Chicago e cujos estudiosos e divulgadores ficaram conhecidos pelos "boys da Escola de Chicago" e se infiltraram em praticamente todos os governos do mundo como se fosse a única forma de governar.

Segundo a autora, estes boys, a pretexto da liberalização do mercado, apenas pretendem três objectivos com a sua politica: privatizar os bens dos Estados, retirar direitos adquiridos aos trabalhadores, especular financeiramente através de empréstimos com chorudos lucros.

Estes sempre foram objectivos da classe capitalista dominante mas não podiam ser implementados. A grande novidade surge quando os estudiosos de Chicago descobrem que em situações de desespero as pessoas aceitam tudo o que lhes impõem. A esta doutrina chamou ela Doutrina de Choque.

"De acordo com a doutrina do choque, sempre que a classe dominante pretende impor determinada medida de carácter impopular, empregará meios de choque na sociedade, na proporção directa das medidas que pretende impor, por forma a obter um adormecimento das consciências durante o tempo necessário para impor essas medidas."

É esta doutrina que tem servido de suporte a toda uma série de intervenções do imperialismo e que constitui o elo comum entre o ataque militar à Síria e o ataque financeiro a Portugal. Em ambos os casos, e de formas completamente diferentes, tenta-se criar o caos enquanto pilham o mais possível, para, em consequência, obterem a posse dos recursos e o sobre-lucro da reconstrução, para além da submissão de governantes fantoches. Reconstrução essa que vai novamente criar uma espiral de endividamento ficando na prática os Estados nas mãos das multinacionais.

Se esta é a lógica aqui aplicada a Portugal parece que tudo ficou mais claro, e que através das explicações tradicionais apenas esclarecia de aspectos parciais. Uma lógica que permite compreender a cegueira e a certeza com que é praticada pelos governantes, antes totalmente incompreensível e desacertada para quem está de fora. Assim já me é mais fácil entender a postura robótica de um Gaspar, o...que...fala...assim. Ou de um Borges, o agente para o rapinanço. Ou de um Relvas, ou de um Passos Coelho, ou de um Portas... Como qualquer fundamentalista religioso basta-lhes a convicção do dogma e não a dissecação do mesmo. Se os gurus dizem que sim, eles dizem que sim. São aquilo que alguns chamam a seita dos friedmanitas, uma espécie de Robin dos Bosques ao contrário cuja consigna é roubar aos pobres para dar aos ricos.

Identificado agora o principal inimigo do povo (sem esquecer todos os adventícios atrás mencionados, claro) e os seus métodos, parece ser mais fácil combatê-lo. É natural que se comece a olhar em volta procurando soluções. Todas elas passando pelo seu afastamento do poder

17/Setembro/2012

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O declinio do ocidente: Tragédia ou comédia?

por Paul Craig Roberts

Durante a Guerra do Vietname a Suécia era um país independente com consciência moral e abrigou cidadãos estado-unidenses que protestavam contra a guerra e que recusaram a conscrição. Washington percebeu o custo disto e comprou o governo sueco a fim de impedir um ressurgimento de consciência moral da parte de qualquer governo ocidental.


No pós II Guerra Mundial e durante as décadas seguintes da Guerra Fria com a União Soviética, os países ocidentais apresentavam-se como a consciência moral do mundo. Descobrimos que isto em grande medida foi uma farsa. Os "países ocidentais" são meros peões cúmplices dos crimes de Washington quando o governo dos EUA tenta bloquear toda informação na sua busca de hegemonia mundial.

Mark Weisbrot, a escrever na Aljazeera, tem o que dizer acerca da utilização por Washington do seu governo fantoche na Suécia a fim de perseguir Julian Assange pela publicação de documentos que revelam a má fé de Washington e a fraude a outros países:

http://www.aljazeera.com/indepth/opinion/2012/09/20129674125619411.html

"Há uma abundância de provas de que os EUA estão muito interessados em punir Assange, e elas continuam a crescer: em 18 de Agosto, o Sydney Morning Herald informou que o serviço de estrangeiros da Austrália estava consciente de que as autoridades dos EUA estiveram a perseguir Assange durante pelo menos 18 meses. E em 24 de Agosto Craig Murray, antigo embaixador do Reino Unido com 20 anos de carreira diplomática, informou que os seus colegas do Foreign Office britânico sabiam melhor porque fazer a ameaça sem precedentes de invadir a embaixada do Equador, mas que fizeram-no sob pressão de Washington.

"Tal como muitos países europeus, incluindo naturalmente o Reino Unido, a política externa sueca está estreitamente alinhada com a do governo estado-unidense. Esta não foi a primeira vez em que a Suécia colaborou com seus aliados de Washington para violar direitos humanos e o direito internacional. Em 2001, o governo sueco entregou dois egípcios à CIA de modo a que pudessem ser enviados ao Egipto, onde foram torturados.

"A acção sueca provocou a condenação da ONU e o governo foi forçado a pagar indemnizações às vítimas; ambas posteriormente isentadas de qualquer suspeita de transgressão. Inquéritos mostram que os suecos consideraram tal crime como o pior escândalo político no seu país em 20 anos.

"A Suécia é uma social-democracia altamente desenvolvida que tem muitas garantias de direitos civis e liberdades para os seus cidadãos. O povo da Suécia não deveria permitir que o seu governo continue a desacreditar-se em outro crime governamental internacional – este um ataque funesto à liberdade de expressão – simplesmente porque Washington assim o quer".

Todos os países ocidentais cumprem as ordens de Washington e são cúmplices nos seus crimes. Washington ou Israel – no essencial, a mesma coisa – fez com que o governo fantoche do Canadá acabasse as relações diplomáticas do país com o Irão sem nenhuma razão que se veja. O ministro canadiano dos Negócios Estrangeiros, John Baird, numa inabitual mostra de ignorância, mesmo para ele, condenou o Irão como uma "ameaça à segurança global". Nenhuma pessoa inteligente poderia acreditar que o Irão constitui uma ameaça à segurança global.

Olhe-se para John Baird. Ele parece mesmo um idiota mentecapto. No que é que se tornaram os canadianos, que foram outrora um povo inteligente e tolerante, para colocaram loucos no ministério? Baird, depois de ser informado pela sua equipe que ao Irão faltava força para ser uma ameaça à segurança global, mudou a sua justificação e insistiu em que rompeu relações diplomáticas devido à hostilidade do país para com Israel. Isto trouxe para o imbecil ministro dos Negócios Estrangeiros do Canadá gargalhadas ainda mais altas. É Israel que tem estado a ameaçar o Irão com ataque militar e a exigir que os EUA se lhe juntem, não o Irão a ameaçar Israel com ataque.

Os países ocidentais tornaram-se uma caricatura de hipocrisia. Se os países ocidentais não estivessem armados com ogivas nucleares, a maior parte do mundo cairia na gargalhada.

10/Setembro/2012

[*] Antigo secretário de Estado do Tesouro dos EUA e colaborador do Wall Street Journal

O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/the-declining-west-tragedy-or-comedy/

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

domingo, 9 de setembro de 2012

As medidas anunciadas por Passos Coelho para 2013

- Agravam ainda mais as desigualdades e a recessão económica em Portugal:


- Trabalhadores e pensionistas sofrem um corte de 5.540 milhões € nos seus rendimentos,

- Patrões recebem um bónus de 2.200 milhões €

                                                                                                                             por Eugénio Rosa [*]

Passos Coelho no discurso que fez perante as câmaras da TV, em 07/09/2013, de apresentação das novas medidas de austeridade para 2013 disse textualmente o seguinte: " O que propomos é um contributo equitativo, um esforço de todos para o objetivo comum, como exige o Tribunal Constitucional … Foi com este propósito que o governo decidiu aumentar a contribuição (dos trabalhadores) para a Segurança Social (de 11%) para 18%, o que nos permitirá, em contrapartida descer a contribuição exigida às empresas (ou seja, aos patrões) também (de 23,75%) para 18% " Isto significa que os trabalhadores do setor privado terão de contribuir para a Segurança Social com mais 2.700 milhões € (+63,6%), e os patrões de contribuir com menos 2.200 milhões € (-24,2%). E é precisamente a isto que Passos Coelho chama descaradamente "um contributo equitativo, um esforço de todos para o objetivo comum".


Para além disso, constitui também uma grande mentira afirmar, como fez Passos Coelho e seus defensores, que a redução das contribuições patronais para a Segurança Social em 5,75 pontos percentuais vai aumentar a competitividade das empresas e criar emprego. Para concluir basta ter presente, que aquela redução de 24,2% nas contribuições pagas pelos patrões vai determinar uma redução nos custos das empresas que estimamos entre 1,5% e 2,46% com base num estudo que fizemos utilizando dados de um relatório do próprio governo (ver nosso estudo 36 de 2011), portanto uma redução reduzida sem impacto significativo facilmente anulada por qualquer variação na taxa de câmbio. Quem são altamente beneficiadas com este bónus são empresas como a EDP, GALP, PT, JM, etc.

Mas a estranha equidade de Passos Coelho não fica por aqui pois, no mesmo discurso, acrescentou também o seguinte " A subida de 7 pontos percentuais será ainda aplicada aos funcionários públicos ", ou seja, eles terão de descontar nas remunerações que recebem mais 850 milhões € por ano para a CGA (portanto, os trabalhadores da Função Pública passarão, em 2013, a descontar 18% para a CGA mais 1,5% para a ADSE, o que soma 19,5%). E para além deste aumento de contribuições para a CGA, o " corte do segundo subsidio é mantido nos termos já definidos na lei do Orçamento do Estado para 2012 , o que significa que, em 2013, os trabalhadores da Função Pública vão sofrer também um corte direto nas suas remunerações nominais que estimamos em 540 milhões € só por esta razão. E o aumento dos descontos para a Segurança Social e CGA, enquanto o PSD e CDS forem governo é para se manter.

Segundo também palavras de Passos Coelho, " No caso dos pensionistas e reformados (reformados da Segurança Social e os aposentados da Função Publica), o corte dos dois subsídios permanecerá em vigor. A duração da suspensão dos subsídios, tanto no caso dos funcionários, como nos dos pensionistas e reformados, continuará a ser determinado pelo período de vigência do Programa de Assistência Económica e Financeira ", ou seja, pelo menos até ao fim de 2014. Só em 2013, os reformados do setor privado sofrerão um corte nas suas pensões que estimamos em 750 milhões €, e os aposentados da Função Pública terão um corte nas suas pensões que calculamos em 700 milhões €; portanto, para empregar as palavras de Passo Coelho, governo e troika estão-se a "lixar" para as decisões do Tribunal Constitucional.

Em relação aos rendimentos da propriedade e do capital que, em 2011, segundo o INE atingiram mais de 51.961 milhões € (valor que corresponde a 78% dos ordenados e salários recebidos por todos os trabalhadores portugueses), e relativamente, por ex., a 18.106 milhões € de rendimentos transferidos para o estrangeiro de aplicações feitas em Portugal por não residentes, que não pagam impostos, Passos Coelho não anunciou qualquer medida.

Paul Krugman, Nobel da economia, para explicar este comportamento dos governantes de pequenos países escreveu estas palavras esclarecedoras que deviam merecer uma atenção especial por parte dos portugueses já que ajudam a compreender a situação atual: " Se alguns deles terminam o mandato usufruindo de grande estima por parte do grupo de Davos (fórum mundial anual onde participam principalmente os representantes dos grandes grupos económicos internacionais e os governantes dos maiores países) há uma infinita série de postos na Comissão Europeia, no FMI ou em organismos afins para os quais poderá ser elegível mesmo que seja desprezado pelos seus próprios conterrâneos. Aliás, ser desprezado seria de certa forma uma mais-valia ". E é sabido que Vitor Gaspar é o pupilo do ministro alemão das Finanças. Para além disso Krugman também menciona o fenómeno que designa por "porta giratória" entre o governo e cargos bem pagos nos grupos económicos nos seguintes termos: "Esta porta já existe há muito tempo, mas o salário que se consegue obter se a indústria gostar deles é imensamente maior do que aquilo que costumava ser, e daí a necessidade de acomodar as pessoas que estão do outro lado da porta, de adotar posições que os torne num contrato atrativo após a carreira politica".

A CRISE ATUAL É CAUSADA PELA QUEBRA DA PROCURA AGREGADA E OS CORTES NOS RENDIMENTOS DOS TRABALHADORES E PENSIONISTAS VÃO DETERMINAR NOVA REDUÇÃO DELA E, CONSEQUENTEMENTE, O AGRAVAMENTO DA RECESSÃO E DO DESEMPREGO


O problema grave que o nosso país e mais países enfrentam atualmente, é a quebra significativa e continuada da chamada procura agregada. Quando uma pessoa num país, ou um conjunto pequeno de pessoas reduzem a sua procura de bens, isso poderá não ter efeitos muito grandes. Mas quando é quase toda a população que a reduz por quebra nos rendimentos; quando as empresas, porque não vendem, reduzem os investimentos; e quando o próprio Estado reduz os seus gastos, e tudo isto é feito simultaneamente não há economia nem sociedade que resista a tal situação. E quando isto também acontece simultaneamente com outros países para onde Portugal exporta, e realizado de uma forma violenta e num curto período como está a ser feito na UE, então com maioria de razão não há economia e sociedade que possa suportar tal politica, tornando o desastre económico e social inevitável. É precisamente isto que está a acontecer em Portugal e na União Europeia. Paul Krugman, prémio Nobel da economia, num livro já escrito este ano, publicado em Portugal, com o titulo Acabem com esta crise já chama precisamente a atenção para esta verdade elementar que ensina a ciência económica. "A altura certa para austeridade é em tempo de fartura e não de recessão …. agora é a altura certa do governo para gastar mais, e não menos, até que o sector privado esteja pronto para voltar a fazer singrar a economia". Ora o que o governo e "troika" por incompetência, ou por cegueira ideológica, ou intencionalmente têm feito é tomar medidas que, ao reduzir ainda mais os rendimentos dos trabalhadores e pensionistas, provocam novas reduções da procura agregada e, consequentemente, o agravamento da recessão económica, o aumento das falências e o aumento do desemprego. Esta quebra não é compensada pelo aumento da competitividade das empresas devido à redução dos custos das empresas entre 1,5% e 2,46% determinada por uma diminuição em 5,7 pontos percentuais da TSU paga pelos patrões como afirmam os seus defensores pois, por um lado, o impacto da redução é praticamente nulo e, por outro lado, não há aumento de vendas se não há quem compre por falta de rendimento. E tal como sucedeu em relação ao agravamento da recessão, ao disparar do desemprego, e à quebra significativa das receitas fiscais, é de prever que estes srs. "venham daqui a alguns meses confessar que ficaram surpreendidos com os resultados desastrosos. Portugal, com um governo totalmente submisso à "troika" estrangeira, transformou-se num laboratório para o FMI, BCE e CE experimentarem as suas teorias de "desvalorização fiscal", de "reformas estruturais", etc. Quando é que portugueses vão dizer um "NÂO" firme e geral a tudo isto?

GOVERNANTES DEPOIS DE DESTRUÍREM A ECONOMIA E O TECIDO SOCIAL SÃO PREMIADOS COM BONS LUGARES EM GRANDES EMPRESAS OU EM ORGANISMOS INTERNACIONAIS

Paul Krugman, Nobel da economia, para explicar todas estas medidas contrárias aos ensinamentos básicos da ciência económica escreveu, no seu livro "Acabem com esta crise" publicado em 2012, o seguinte que deverá merecer uma reflexão por todos os portugueses: " Atente-se, por ex., no fenómeno, da porta giratória, pelo qual políticos e outros dirigentes acabam por ir trabalhar para a indústria que supostamente deveriam estar a supervisionar. Esta porta já existe há muito tempo, mas o salário que se consegue obter se a indústria gostar deles é imensamente maior do que aquilo que costumava ser, e daí a necessidade de acomodar as pessoas que estão do outro lado da porta, de adotar posições que os tornem num contrato atrativo após a carreira politica ". Não se podia ser mais claro. E relativamente a governantes de pequenos países como Portugal, Paul Krugman acrescentou ainda o seguinte. " Se alguns deles terminar o mandato usufruindo de grande estima por parte do grupo de Davos (fórum mundial anual onde participam principalmente os representantes dos grandes grupos económicos internacionais e os governantes dos maiores países) há uma infinita série de postos na Comissão Europeia, no FMI ou em organismos afins para os quais poderá ser elegível mesmo que seja desprezado pelos seus próprios conterrâneos. Aliás, ser desprezado seria de certa forma uma mais-valia " (Acabem com a crise, 2012, pág. 100). Por ex., Vitor Gaspar é o pupilo preferido do ministro alemão das Finanças. Estas palavras escritas e publicadas por Paul Krugman já este ano, ajudarão certamente muitos portugueses a compreender o que se está a passar neste momento em Portugal, e a razão destas medidas, e desta politica de austeridade tão iníqua, foi por isso as transcrevemos.

A RESPONSABILIDADE SOCIAL DOS ECONOMISTAS EM PORTUGAL

Apesar de ser economista de formação e de profissão não posso deixar de dizer, à semelhança do que aconteceu em relação a crise atual, também em Portugal a maioria dos economistas que têm fácil acesso fácil aos media são também responsáveis pela atual politica, pois esquecendo e mesmo renegando o que aprenderam e os ensinamentos básicos da ciência económica, têm dado cobertura ideológica com o nome da sua profissão a esta politica pró-cíclica recessiva, que está a destruir a economia e a sociedade portuguesa para agradar e obter os favores do poder politico e económico, contribuindo assim para enganar a opinião pública e desacreditando, infelizmente, a profissão de economista aos olhos dos portugueses. Como escreveu também Paul Krugman: "É preocupante ver até que ponto os economistas têm sido parte do problema e não parte da solução " (2012: 104). Espero agora que perante este novo corte na procura agregada interna, determinado por mais cortes nos rendimentos dos trabalhadores e dos pensionistas, que vai agravar a recessão e o desemprego, e com a transformação de Portugal e dos portugueses em laboratório de experimentação para as politicas ultraliberais do FMI e da troika, a maioria tenha a coragem de dizer que prosseguir em tal caminho só poderá conduzir a uma maior destruição da economia e da sociedade e a hipotecar o futuro de Portugal durante muitos anos.

08/Setembro/2012

[*] Economista, edr2@netcabo.pt

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

sábado, 1 de setembro de 2012

Bloqueio: a guerra contra Cuba


https://www.youtube.com/watch?v=HlwlS2uUHyE&feature=player_embedded

Sinopse: "Bloqueio - A guerra contra Cuba"/ é um documentário argentino de 70 minutos, com uma ampla investigação e denúncia de como o bloqueio econômico, contra Cuba prejudica a vida do povo cubano.

Segundo Maria Silvína, a idéia do documentário é trazer a realidade, o outro lado, que os grandes meios de comunicação escondem. "Queremos mostrar como o povo cubano vive com esse bloqueio nas costas", afirma.
"Esse bloqueio tem custado ao nosso povo mais de US$ 82 bilhões de perdas, de vidas humanas. Afetando todas as esferas da sociedade, como a saúde, educação, cultura e alimentação", declara Mosquera.
O filme surgiu a partir de uma investigação jornalística da jornalista argentina, Carolina Silvestre, é dirigido por Daniel Desaloms e produzido pela produtora independente Latino Produções, com apoio do Instituto Nacional de Cine e Artes Audiovisuais da Argentina - INCAA.

Se você acredita na história da velha mídia, que em Cuba não se vota, que há uma ditadura, que Fidel é um carrasco, assista ao Documentário "Fatos, Não Palavras: Direitos Humanos em Cuba".

Publicação em destaque

Marionetas russas

por Serge Halimi A 9 de Fevereiro de 1950, no auge da Guerra Fria, um senador republicano ainda desconhecido exclama o seguinte: «Tenh...